10.6.10

J. Enigmática

(é verão. as fotos espalhadas pelo chão. ventiladores ligados espalhando a poeira da casa esquecida. louças a lavar. correspondências que nunca serão abertas. bijuterias perdidas que nunca reverão as donas. um pé de sapato. um grampo de cabelo. o porta retrato está quebrado. foi você, eu me lembro)

J. cruzou a sala sem falar comigo
a arranhar o assoalho
com seus pés de fogo.

largou o casaco rosa-sintético no sofá,
e pediu uma dose.
(antes que eu negasse
serviu-se em gesto bruto)

ajeitou a franja feito esperança,
a mascar seu chicletes .

- Eu sei que você me odeia.

(e) manda que eu prepare suas malas
e a embarque no primeiro ônibus.

[guardando na mala suas vontades,
seus poucos anos,
suas infrações adolescentes,
aflições, sessões de análise,
teu par de sandálias, e mais nada]

J. sempre chorou à toa
mas rasgar babado do vestido
de petit pois é novo.

bate no peito a arranhar colo
avermelhar as tatuagens com as unhas
de esmalte vermelho, a dizer asmática:

- Eu não mereço, mas eu vou, calhorda! 

3 comments:

Marcelo Q. said...

Muito bom isso, tem um tom de desespero, q dá uma aflição. vlw

Dy Peters said...

Ratão, pegou pesasdo, hein...rs
J. está viva ainda? hauahuahau
abraços

Carolina Matozinhos said...

J. é cleptomaníaca, rouba alguma coisa sem saber,por desleixo. me identifico.