30.3.12

octaedro

são páginas dissonantes, meu amor.
segredos de linguagem, fúria.

é que as vezes só podemos portar
um lápis e uma folha solta.

&
tende a ser viril, mágico, alcunha
de nós mesmos. duas pirâmides
amando em geometria espacial.

quando de um beijo na Calle Defensa,
e ao longe o senhor de óculos dizia
: é apenas uma canção de Pizzolla.

mas lembre-se, nessa casa nenhuma
mas nenhuma parede é paralela, e sim,
ainda sim me permito amar de canto.

por que há sempre duas palavras mágicas
- eu quero!
acionadas pelo barulho da tampa da garrafa
que desprende o gás, ecoando pela cozinha.

existe a arte de massagear dois pés,
com apenas uma mão, enquanto canções
desfilam impunes pelo toca-discos;
amor de panturrilhas.

faria um tango sobre amores que nascem
em ônibus em movimentos,
uma balada sobre o sofá-cama que
se abriu tantas vezes em tardes livres.

um soneto sobre o corpo que recobre
e faz um mundo.

mas seriam só palavras, e a linguagem
às vezes é apenas um ser vivo de
autonomia irritante que desconhece
as coisas do amor.

6 comments:

Maria said...

a linguagem não sabe nada do amor. mas só a das palavras.

belo.

Anonymous said...

e alguns amantes às vezes só sobrevivem se for na condição de:

"minados pelo inferno da linguagem" (max de castro)

muito bonito

Anonymous said...

é do max martins essa frase aí de cima... (minados pelo inferno da linguagem)

Marilia Campos said...

belo poema. deixa os anonymous até confusos em suas analises literarias. lol

Florbela said...

uma coisa que eu acho provocante nessa história é que o poeta sempre usa a metalinguagem para esconder algo. é como se o sentimento fosse algo menor ou algo a se esconder. enfim, de qualquer forma considero esse poema uma espécie de virada. me parece que vem coisa boa por aí. (não que o que vinha antes não seja bom)

Kadu Mauad said...

"faria um tango sobre amores que nascem
em ônibus em movimentos,
uma balada sobre o sofá-cama que
se abriu tantas vezes em tardes livres."

uma pérola!